sábado, 25 de fevereiro de 2017

Você conhece a teoria das janelas quebradas?

Você conhece a teoria das janelas quebradas?

Foi com base nessa teoria que o prefeito de Nova Iorque, Rudolph Giuliani, em 1994, implementou a política da Tolerância Zero, melhorando substancialmente os índices de criminalidade naquela cidade.

A Teoria das Janelas quebradas surgiu em 1982, quando o cientista político James Q. Wilson e o psicólogo criminologista George Kelling publicaram um estudo na revista Atlantic Monthly, estabelecendo uma relação direta de causalidade entre a desordem e a criminalidade. O estudo se baseou no experimento de abandonar carros idênticos e, ao mesmo tempo, em uma rua do Bronx, bairro pobre e inseguro de Nova Iorque e em outra rua de Palo Alto, zona rica e segura da Califórnia, ambos nos EUA.

Após alguns dias, o experimento de psicologia social revelou, inicialmente, que o carro abandonado no Bronx foi vandalizado e depredado em pouco tempo. As rodas foram furtadas, o rádio, os bancos, o motor etc. Levaram tudo o que foi possível, ficando o carro completamente destruído. Em contrapartida, o carro abandonado na cidade de Palo Alto manteve-se sem qualquer dano.

Após o primeiro resultado, os pesquisadores evoluíram para uma segunda etapa, quebrando um dos vidros do carro parado na rua de Palo Alto. O efeito, poucos dias depois, foi semelhante ao do Bronx. O carro foi depredado e teve seus objetos furtados do mesmo modo como ocorreu no Bronx.

Então, qual a conclusão tirada com essa experiência? Desordem gera mais desordem. O vidro quebrado levou as pessoas a acreditarem que o veículo estava abandonado, sem dono. Transmitiu uma ideia de deterioração, de desinteresse, influenciando as pessoas daquele local a praticar delitos pela sensação da ausência de ordem ou da lei.

Em linhas gerais, a Teoria das Janelas Quebradas demonstra que um ambiente abandonado, descuidado, deteriorado, sujo, sem ordem, sem regras ou sem dono potencializa a ocorrência de desvios de conduta como mais sujeira, vandalismo e outros delitos mais graves por parte das pessoas que vivem ou passam por aquele ambiente.

Podemos aplicar essa teoria em diversos ambientes da nossa vida social: nossa cidade, nosso bairro, nossa rua, nossa casa, nosso local de trabalho etc. No Rio de Janeiro, anos atrás, por exemplo, percebia-se uma gigantesca diferença na limpeza e conservação entre os vagões do metrô e os do trem da cidade. Enquanto o metrô estava sempre limpo, silencioso, organizado e sem ambulantes, o trem apresentava cenário oposto: sujeira, barulho, problemas operacionais recorrentes, muitos pedintes e até crimes.

Por analogia, ao trazermos essa teoria para a realidade corporativa, fica mais fácil de entender por que grandes empresas têm esperado que seus empregados assumam o papel de “dono”. Hoje, tem se falado muito no conceito de dono nas corporações de sucesso, como um posicionamento ou atitude que todos devem adotar, a começar pelos gestores, que são os principais influenciadores e formadores de opinião dentro das suas organizações.

Sabemos que um ambiente descuidado, por exemplo, com lixo acumulado, com materiais abandonados ou, ainda, com equipamentos quebrados por um longo período, passará uma imagem de descuido, deterioração e desordem para as pessoas. Eis aí as janelas quebradas! Como reflexo dessa “pequena” desordem, haverá mais desordem nesse lugar. Por isso, precisamos ser, efetivamente, “donos” da nossa empresa, a começar pelo nosso ambiente de trabalho, sendo participativos e proativos na prevenção dos diversos tipos de desvios e adotando a postura de tolerância zero quando diante de desvios mais graves, tais como irregularidades ou ilícitos, que ferem ao Compliance.

Na era da tecnologia, com tantas informações disponíveis ao alcance de todos, não basta apenas ter conhecimento técnico. As empresas estão atrás daqueles que são verdadeiramente comprometidos com a visão e a missão da organização. Neste caso, ninguém melhor que aquele que se sente e age como dono para fazer a diferença dentro do seu local de trabalho e perante a sua equipe. Por isso, o gestor contemporâneo precisa assumir com propriedade (literalmente) o papel de “dono”, cuidando cada vez melhor do seu ambiente de trabalho. Não podemos esquecer que um bom ambiente de trabalho tem influência direta na satisfação das pessoas. Essa tarefa não é exclusiva do gestor de Facilities e de Segurança. Essa missão é de todos, sendo mister que os gestores deem o exemplo até mesmo com simples gestos, como por exemplo pegar um papel jogado no chão ou providenciar a guarda de um material largado no setor.

Em última análise, percebemos que a teoria das Janelas Quebradas nos ensina que uma pequena ação, mesmo involuntária, endossada pela omissão do dono ou de outras pessoas, vai desencadear diversas ações que resultarão na deterioração e na desordem do ambiente. Por outro lado, o ambiente com respeito às regras e fiscalização presente do gestor ou do empregado-dono influenciará cada vez mais as pessoas que ali vivem a zelar pelo seu local de trabalho, buscando a melhoria contínua dos processos para o sucesso da empresa.

Por que não cuidar da sua empresa como sendo, de fato, a sua segunda casa? Pare de ser um mero empregado; seja o empregado-dono!


ODON, T.I. Tolerância Zero e as Janelas Quebradas: sobre o risco de se importar teorias e políticas. Brasília: núcleo de Estudos e Pesquisas/CONLEG/Senado, março/2016 (texto para Discussão Nº 194), disponível em www.senado.leg.br/estudos.